Caverna Mexicana Contém Evidencias de Humanos de 30.000 Anos Atrás

As impressionantes descobertas feitas recentemente na caverna Chiquihuite, no norte do México, levantam mais perguntas do que respostas.

A Caverna Chiquihuite.
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O povo Clovis, que chegou 15.000 anos atrás ao Hemisfério Ocidental, não foram os primeiros humanos nas Américas como se acreditava anteriormente.

Dentro da Caverna Chiquihuite, localizada no norte do México a cerca de 2.700 metros acima do nível do mar, os arqueólogos encontraram quase 2.000 ferramentas de pedra e restos de plantas e animais que a datação por radiocarbono identificou como tendo entre 25.000 a 30.000 anos.

“Durante décadas, as pessoas debateram apaixonadamente quando os primeiros humanos entraram nas Américas. A caverna de Chiquihuite criará muito mais debate, pois é o primeiro local que data a chegada de pessoas ao continente há cerca de 30.000 anos, ou seja, 15.000 anos antes do que se pensava”, disse o cientista líder do estudo de DNA, Eske Willerslev, da Universidade de Cambridge.

 

Um dos autores da pesquisa, o geneticista Mikkel Winther Pedersen, da Universidade de Copenhagen, disse: “Identificamos DNA de uma ampla variedade de animais, incluindo ursos negros, roedores, morcegos, ratos-do-mato e até ratos canguru”.

Os pesquisadores ainda não sabem dizer a quem pertenciam as ferramentas, já que não foram encontrados restos humanos na caverna. Isso sugere que o local não era um assentamento permanentemente, mas sim um lugar que as pessoas usavam apenas periodicamente.

Ferramentas rupestres encontradas na Caverna Chiquihuite.

“Esses primeiros visitantes não ocuparam a caverna continuamente. Achamos que as pessoas passavam parte do ano lá usando-o como abrigo no inverno ou no verão, ou como base para caçar durante a migração. Este pode ser o ‘hotel’ mais antigo das Américas”, diz Willerslev.

Ciprian Ardelean, o arqueólogo líder do projeto da Universidade de Zacatecas, diz que talvez o mais importante seja quem eles não são, e com base no estilo das ferramentas que foram encontradas ele afirma: “Não são as pessoas da cultura Clovis, considerados os primeiros habitantes da América. Ainda não sabemos quem eles eram, de onde vieram ou para onde foram. Eles são um enigma completo. Presumimos falsamente que as populações indígenas nas Américas hoje são descendentes diretos dos primeiros americanos, mas agora não pensamos que esse seja o caso”.

Explorando a Caverna Chiquihuite

A datação dos restos encontrados na caverna Chiquihuite indicam que as pessoas estavam lá durante o Último Máximo Glacial, esta foi uma época em que os mantos de gelo continentais estavam em seu tamanho máximo, tornando o norte do México seriamente frio.

“Durante este período deve ter havido tempestades horríveis, granizo e muita neve”, diz Ardelean, que trabalhou no local por 10 anos e até passou meses morando na caverna e conta que ela é bem isolada e teria um abrigo adequado.

Enquanto a empolgação na arqueologia normalmente deriva de descobertas construídas pouco a pouco a partir da meticulosa coleção de artefatos, a escavação da caverna Chiquihuite, de difícil acesso, foi uma experiência excepcional. A caverna está localizada em uma região do México controlada por cartéis e a segurança dos cientistas não foi de forma alguma garantida.

“Foi uma experiência inesquecível. É um lugar muito inseguro para viajar, por isso fomos acompanhados por policiais mexicanos em carros blindados até o sopé da montanha. Saímos antes do nascer do sol para subir à caverna para não sermos vistos”, lembra Pedersen.

Arqueólogos exploram a Caverna Chiquihuite

Willerslev diz: “Nunca me esquecerei de fazer parte desta pesquisa, foi uma experiência inacreditável. As implicações dessas descobertas são tão importantes, senão mais importantes, do que a descoberta em si. Este é apenas o início do próximo capítulo no muito debatido sobre o povoamento precoce das Américas”.

Rota de Migração

Um artigo complementar publicado por dois dos autores contribuintes do estudo, Lorena Becerra-Valdivia, da Universidade de New South Wales e Thomas Highamda, da Universidade de Oxford, contém um modelo estatístico dos primeiros assentamentos humanos com base nos dados da Caverna Chiquihuite e 41 outros sítios arqueológicos na América do Norte, bem como Beringia, uma região do leste da Sibéria e oeste do Alasca.

Os autores também consideraram evidências climáticas históricas e genéticas e seu modelo apresenta uma história na qual os humanos estavam na América do Norte muito antes da data aceita anteriormente de 15.000 a 16.000 anos atrás.

O modelo apoia a hipótese da “migração costal” em que os visitantes que viajaram pelo continente durante a época das glaciações teriam que se deslocar pelo litoral para evitar os mantos de gelo sobre as áreas do interior.

Então, quem quer que tenham sido esses primeiros humanos, o que aconteceu com eles?

O geneticista David Reich, da Escola de Medicina de Harvard disse: “Continua não havendo nenhuma evidência genética convincente de uma presença humana anterior a 15.000 anos atrás nas Américas”. Mas Ardelean propõe que essas populações primitivas simplesmente não sobreviveram o suficiente para contribuir com o material genético moderno e afirma: “Eu defendo definitivamente a ideia de pequenos grupos perdidos”.

Ardelean conclui: “O povoamento das Américas é o último Santo Graal da arqueologia moderna. Locais não convencionais precisam ser levados a sério e precisamos sair e procurá-los intencionalmente. Este local não resolve nada, apenas mostra que esses primeiros locais existem. Estamos lidando com um punhado de humanos de milhares de anos atrás, então não podemos esperar que os sinais sejam muito claros. Literalmente cavamos mais fundo do que qualquer um já fez no passado”.