Material orgânico extraterrestre de 3 bilhões de anos é encontrado

Pesquisadores afirmam ter encontrado traços de material orgânico vindos de fora da Terra em rochas na África do Sul.

Material Organico foi encontrado na África do Sul. Créditos: Rob Crandall / Alamy.
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De acordo com os cientistas, uma fina camada de rocha de 3,3 bilhões de anos contém um tesouro inesperado: material orgânico que foi transportado para a Terra por meteoritos quando o planeta ainda era jovem e foi enterrado por conta da atividade vulcânica do passado.

“Esta é a primeira vez que encontramos evidências reais de carbono extraterrestre em rochas terrestres”, explicou ao New Scientist o astrobiólogo Frances Westall, que participou da pesquisa.

Até agora, sabemos que moléculas orgânicas, desde metano até aminoácidos, existem no espaço, e é possível que essas moléculas tenham sido trazidas para o nosso planeta através de asteróides. Os cientistas que estudam essas rochas na África do Sul parecem ter descoberto evidências dos exemplos mais antigos dessas moléculas extraterrestres.

 

As Montanhas Makhonjwa ficam no leste da África do Sul e Suazilândia e contém depósitos de 7 a 20 metros de espessura de rochas vulcânicas de 3,3 bilhões de anos chamados Josefdal Chert. Entre as camadas de cinza vulcânica encontram-se camadas de carbono, depositadas durante os períodos de baixa atividade vulcânica, e toda a região parece ter sido alterada pela presença de água.

Os pesquisadores analisaram amostras coletadas durante campanhas de campo, dividiram-nas em dezenas de peças e as analisaram com microscópios eletrônicos, prótons de um acelerador de partículas e ressonância paramagnética eletrônica de ondas contínuas (cw-EPR). Em essência, os pesquisadores mediram como os elétrons das amostras responderam a um campo magnético que mudava lentamente.

Usando a técnica de espectroscopia de ressonância paramagnética eletrônica (EPR), os pesquisadores descobriram que a rocha possuía dois tipos de matéria orgânica insolúvel, ambos sugerindo origens de fora da Terra – a mais antiga já identificada.

O sinais emitidos pelo equipamento se assemelham a algo que os cientistas já notaram anteriormente: antigas amostras de meteoritos contendo compostos orgânicos.

Os pesquisadores não se surpreenderam em encontrar material extraterrestre em seus sedimentos – como acontece hoje em dia, meteoritos provavelmente caíram na Terra antiga, trazendo moléculas de carbono orgânico. O que os surpreendeu é que, de alguma forma, havia um número suficiente desses materiais presentes na área para ainda ser detectável 3,3 bilhões de anos depois. Eles propuseram que talvez a camada que analisaram possa ter se formado após um impacto de um meteoro que produziu uma camada de poeira na atmosfera que se instalou sob uma camada de cinza vulcânica.

Contudo, uma outra leitura das mesma informações sugere que o material seja composto de nanopartículas de níquel, cromo e ferro. Embora esse fato contradiga a tese de que as substâncias têm relação com matéria orgânica, essa teoria também fortalece o argumento de que partes dessa camada de rocha vieram do espaço.

“Espinélios (grupos de minerais que se cristalizam em formatos irregulares) de cromo rico em níquel, também conhecidos como ‘espinélios cósmicos’, são formados durante a entrada de objetos extraterrestres na atmosfera da Terra”, disse o autor da nova pesquisa, Didier Gourier, da PSL Research University.

A descoberta apoia a ideia de que substâncias químicas orgânicas, baseadas em carbono, vindas do espaço forneceram algumas das matérias-primas para a primeira vida na Terra. Entretanto, isso poderia complicar a busca por vida em outros planetas, pois encontrar camadas de carbono orgânico extraterrestre a partir de asteróides dificultariam os esforços para detectar bioassinaturas de aparência semelhante em outros planetas, como Marte, já que a assinatura de um asteróide depositado poderia se parecer com a assinatura de vida.

As pesquisas continuam mostrando que as rochas do nosso planeta preservam uma história incrível, e não apenas nossa própria história, mas a história de todo o sistema solar.