Quem eram os “Povos do Mar” que devastaram o Mundo Antigo?

Os "Povos do Mar" aterrorizaram o Egito Antigo e o Mediterrâneo durante a Idade do Bronze, mas sua identidade e origens permanecem misteriosas até hoje.

Gravura egípcia retratando os "Povos do Mar" sendo derrotados pelas mãos do Faraó Ramsés III.
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Mais de 2.000 anos antes de os vikings zarparem pela primeira vez da região da Escandinávia para atormentar os povos da Europa, os grandes impérios do mundo antigo enfrentaram um terrível inimigo marítimo anterior, um que permanece quase um completo mistério até hoje.

“Eles vieram do mar em seus navios de guerra e ninguém conseguia enfrentá-los”, proclama de forma ameaçadora uma inscrição do século 13 a.C., encontrada na cidade egípcia de Tanis.

Eles eram os Povos do Mar, o nome moderno dado aos guerreiros navais que, segundo as informações, causaram estragos entre os anos, aproximados, de 1.400 a.C. e 1.000 a.C., na região do Mar Mediterrâneo, mas sua identidade e origens estão amplamente envoltas em mistério.

 

Quem eram os Povos do Mar?

Os povos do mar não deixaram monumentos ou registros escritos próprios e tudo o que os historiadores sabem sobre eles vem de inscrições apocalípticas criadas pelos impérios que lutaram contra eles, especialmente os antigos egípcios.

Alguns historiadores modernos teorizam que os egípcios conheciam as origens dos povos do mar com base na maneira como escreveram sobre eles. Na verdade, é precisamente o fato de essas inscrições não mencionarem as origens do grupo que leva alguns a acreditar que essa informação era de conhecimento comum a ponto de não precisar ser declarada.

Quer essa teoria esteja correta ou não, o fato é que as origens dos povos do mar não são mencionadas em nenhum lugar nos registros egípcios (e nem nos registros de outras civilizações) e, portanto, essa informação foi perdida na história.

Os egípcios, entretanto, referem-se aos povos do mar como “Nortistas”, o que levou alguns estudiosos a teorizar que eles teriam sua origem na Europa, talvez vindos de onde hoje é a Sicília ou da Turquia. Alguns até especulam, com poucas evidências, que os povos do mar eram na verdade os “filisteus” bíblicos, que supostamente lutaram contra os antigos israelitas, mas cuja identidade permanece misteriosa.

Uma teoria sugere que os povos do mar seriam, na verdade, os troianos que foram deslocados após a Guerra de Troia com os gregos.

De qualquer forma, como no caso dos vikings, não se sabe ao certo o que levou os povos do mar a deixar suas terras natais, onde quer que fossem, e começar a invadir outras terras (especialmente as mais ricas). No entanto, alguns historiadores sugerem que a fome, a seca ou algum outro tipo de desastre natural pudesse ter sido a razão pela qual eles navegaram pela primeira vez para outras terras.

Outra teoria especulou que um outro tipo de desastre, mais humano, estava por trás da migração: a guerra. Essa teoria postula que os povos do mar foram os troianos, que foram deslocados depois que seu reino caiu nas mãos dos gregos durante a Guerra de Troia.

Devastando o mundo antigo

Embora a identidade e as origens dos povos do mar ainda permaneçam um mistério, temos algumas informações tentadoras sobre os terrores que eles infligiram ao Mundo Antigo, graças às inscrições deixadas por aqueles que testemunharam a devastação.

“A população e suas terras foram devastadas como se nunca tivessem existido”, escreveu o Faraó Ramsés III, referindo-se ao ataque dos povos do mar ao Reino de Amurru, na atual Síria e Líbano, no século 12 a.C..

Na verdade, muito dos estudos modernos sobre os povos do mar deriva das evidências deixadas para trás pelo reinado de Ramsés III. O egiptólogo francês Emmanuel de Rougé cunhou o próprio termo “Povos do Mar”, em 1855, para descrever a força militar retratada em uma gravura da época de Ramsés III.

Uma inscrição dessa mesma época fala sobre o que os povos do mar fizeram às terras vizinhas ao Egito, no início do século 12 a.C.: “De uma só vez, todas as suas terras foram atacadas e destruídas em batalha”.

O templo do Faraó Ramsés III, em Medinet Habu, abriga muitas das inscrições que descrevem os misteriosos Povos do Mar.

Outros registros afirmam que por mais 200 anos depois dessa época, os povos do mar continuaram suas batalhas e ataques por todo o Mediterrâneo. Na falta de evidências suficientes, os historiadores não podem dizer com certeza qual foi o seu impacto no mundo antigo, embora alguns estudiosos especulem que eles podem ter indiretamente levado à queda do Império Hitita e até mesmo ao misterioso colapso do final da Idade do Bronze, que levou à queda de muitos dos Reinos do Leste, enviando-os para uma espécie de idade das trevas por volta do ano 1.177 a.C..

O último ataque registrado dos povos do mar ocorreu em 1.175 a.C., durante o reinado do faraó Ramsés III.

O exército egípcio, sob o comando do faraó, expulsou os invasores de volta ao mar e destruiu sua frota nas margens do Nilo durante a Batalha do Delta.

Após a batalha, Ramsés III registrou, triunfante, que “seus corações e suas almas foram liquidados por toda a eternidade” e, de fato, os povos do mar parecem ter desaparecido da história daquele ponto em diante.