O Enigma da Esfinge

A Grande Esfinge de Gizé é um dos monumentos mais fantásticos do Egito Antigo e parece retratar uma criatura mítica com cabeça de homem e corpo de leão, mas será isso mesmo?

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Segundo a lenda, a Esfinge protege as tumbas dos grandes faraós do Egito e tem feito isso desde 2500 a.C. No entanto, nos últimos tempos, muito debate girou em torno das origens e da natureza desta estátua.

Alguns dizem que os padrões de erosão realmente indicam que a Esfinge foi construída há centenas, senão milhares de anos antes.

Outros sugerem que a cabeça da Esfinge, estranhamente desproporcional em relação ao corpo, indica que, originalmente, a estátua era de um leão ou, talvez, até mesmo do deus egípcio Anúbis, que guiava e conduzia a alma dos mortos no submundo, e era sempre representado com cabeça de um cão ou chacal.

 

Como ninguém pode saber a verdade com certeza, o Enigma da Esfinge permanece.

A Esfinge Mitológica

Édipo e a Esfinge de Tebas

A esfinge é uma figura conhecida na mitologia grega e egípcia. É tipicamente retratada como tendo a cabeça de um homem, o corpo de um leão e as asas de uma águia.

Uma esfinge pode ser masculina ou feminina, mas é sempre astuta e impiedosa. Normalmente, nos mitos, a esfinge faz enigmas e, se uma pessoa respondesse incorretamente, ela era devorada.

Por vezes, a esfinge aterrorizava uma aldeia, como no caso da esfinge de Tebas, que segundo a famosa lenda, teria aterrorizado o povo ao exigir a resposta de um enigma ensinado pelas Musas: “Que animal anda pela manhã sobre quatro patas, a tarde sobre duas e a noite sobre três?”, e devorado todos os que foram incapazes de responder corretamente. Por fim, Édipo deu a resposta adequada: “o homem”, pois este engatinha de quatro na infância, anda sobre os dois pés quando adulto e apoia-se em um cajado ou bengala na velhice. A esfinge, frustrada, então jogou-se de um precipício e pereceu.

Em outras ocasiões, como na Grande Esfinge de Gizé, diz-se que a criatura guarda algo e não deixará ninguém passar, a menos que responda corretamente a um enigma.

Quem construiu a Esfinge de Gizé?

A arqueologia tradicional afirma que a Esfinge de Gizé foi construída durante a Quarta Dinastia do Antigo Reino do Egito, sob o reinado do Faraó Quéfren, possivelmente por volta dos anos 2.558 a.C. até 2.532 a.C., mesma época em que as Grandes Pirâmides estavam sendo construídas.

O rosto da estátua deveria ter sido feito à imagem do Faraó. No entanto, não se pode deixar de ficar confuso com a aparência desproporcional de uma pequena cabeça no topo de um corpo tão gigantesco.

Mas, se há algo que sabemos sobre os antigos egípcios e suas estátuas, é que eles sempre acertaram as proporções. Na verdade, poderíamos dizer que eles eram extremamente obcecados por proporções corretas em tudo. Então, porque razão eles teriam esculpido o que, ainda hoje, é a maior estátua de pedra do mundo com as proporções erradas?

Além disso, o rosto da Esfinge não se parece com outras representações do Faraó Quéfren.

Esquerda: Estátua do Faraó Quéfren. Centro: Grande Esfinge de Gizé. Direita: Estátua em marfim do Faraó Quéops.

As representações conhecidas de Quéfren em estátuas e a da Esfinge revelam muitas diferenças, embora alguém possa justificar que os escultores entenderam as características de Quefrén ligeiramente erradas por causa da singularidade, da escala e do desafio de trabalhar a rocha, ao invés da escala muito menor já testadas com sucesso em suas estátuas, algumas das quais foram recuperadas do Templo do Vale ao lado da Esfinge.

Alguns dizem que a Esfinge é mais semelhante ao estilo do Faraó Quéops, pai de Quéfren, e, portanto, foi construída em algum momento de seu reinado. Outros argumentam que ela foi construída pelo outro filho de Quéops e irmão de Quéfren, o pouco conhecido Faraó Djedefré, em homenagem ao pai.

A Esfinge como um Leão Gigante

No entanto, nenhuma dessas teorias explica a natureza chocante e desproporcional da cabeça da esfinge. O arquiteto histórico Dr. Jonathan Foyle disse que “a cabeça e o corpo são totalmente desproporcionais, e a razão para isso poderia ser que a Esfinge, originalmente, tinha uma cabeça totalmente diferente, talvez a de um leão. Para os primeiros egípcios, o leão era um símbolo de poder, muito mais poderoso do que um rosto humano”.

Neste ponto da história, os leões ainda habitavam Gizé e arredores. Seja devido à erosão do calcário macio ou por razões políticas, os defensores da teoria da cabeça de leão argumentam que a Grande Esfinge foi remodelada para ter o rosto do homem, possivelmente o de um faraó, um ato que reduziu o tamanho total de sua cabeça significativamente.

Anúbis: O deus egípcio dos mortos

Uma outra teoria, um pouco menos apoiada, mas muito mais interessante, sustenta que a cabeça da Grande Esfinge era originalmente de um animal, mas não de um leão. E poderia ser de um cachorro ou chacal, animal que representava o deus egípcio dos mortos, Anúbis.

Como o pesquisador e autor Robert Temple observa: “o corpo da Esfinge não é felino, pois os leões são conhecidos por suas costas curvas e possuindo uma juba, ausente na Esfinge, em vez disso, o corpo tem a forma muito mais semelhante a de um cachorro agachado”.

Há muitas evidências circunstanciais para apoiar essa teoria, uma delas é que Anúbis é o deus dos mortos, e acredita-se que ele os protege e evita que os indignos cruzem o rio Nilo para o submundo, o mesmo papel desempenhado pelo cão de guarda Cérbero, na Mitologia Grega.

Estátua de Anúbis

Segundo o Livro dos Mortos, uma estátua de Anúbis era usada em rituais fúnebres, especificamente na lavagem das partes do corpo falecido, que eram colocadas nos quatro jarros canópicos, e isso também explicaria que o local da Esfinge pode ter sido um fosso cheio de água, usada para a lavagem ritual do corpo do faraó.

Por fim, a imagem mais conhecida do deus egípcio é a Estátua de Anúbis, encontrada dentro da tumba do rei Tutancâmon, que o mostra como um cão agachado. Se a cabeça da estátua era originalmente a de um cão ou chacal de orelhas pontudas, como Anúbis costuma ser retratado, então sustenta-se a noção de que sua construção pode ser muito mais antiga do que se imagina e a erosão poderia ter arruinando suas orelhas e talvez seu focinho. O Faraó procurou então restaurar a estátua e remodelá-la para ter uma cabeça de homem, transformando-a na figura mítica popular, a Esfinge.