Mineração de asteroide começa a deixar a ficção

Já existem startups que se dedicam a estudar e catalogar os metais raros presentes nas pedras espaciais; mercado deve levar ao menos dez anos para se tornar realidade.

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Explorar o espaço e seus recursos sempre foi um sonho antigo da humanidade. Essa ambição voltou à tona recentemente com empresas privadas financiadas por bilionários como Elon Musk, Jeff Bezos e Richard Branson, que têm desenvolvido foguetes reutilizáveis. Essa tecnologia não torna viável apenas a exploração especial, mas também incentiva outras atividades que hoje só existem na ficção, como a exploração de recursos minerais de asteroides. Agora, existem startups e agências governamentais dedicadas a comprovar que esse é um mercado atraente.

Trata-se de um grupo ainda pequeno: hoje, há cerca de dez empresas de olho na mineração de asteroides – corpos rochosos ou metálicos, que podem ter se originado de choques entre planetas. Uma dessas empresas é a inglesa Asteroid Mining Corporation, criada em 2016. Com sete funcionários, está prestes a receber sua primeira rodada de investimentos, de cerca de US$ 3 milhões. “Queremos iniciar a corrida pelos asteroides. Será a corrida pelo ouro do século 21”, disse Mitch Scullion, fundador e presidente executivo da novata.

Parece coisa de filme, mas quem se dedica a estudar o segmento argumenta que ele tem alto potencial. O asteroide Ryugu, que contém ferro e cobalto, pode valer cerca de US$ 82 bilhões, segundo o Asterank, banco de dados que analisa, entre outros fatores, a composição das pedras. A agência nacional de exploração espacial americana, a Nasa, estima que, se todos os asteroides conhecidos no sistema solar pudessem ser explorados e sua riqueza fosse distribuída entre os habitantes do planeta, cada pessoa receberia a bagatela de US$ 100 bilhões.

 

Isso porque os asteroides são formados por metais que podem se tornar escassos na Terra no próximo século. É o caso de elementos do grupo da platina, por exemplo, que pode desaparecer em até 60 anos. Não é preciso que uma reserva se esgote por completo para que um determinado material se torne escasso – basta que sua exploração se torne economicamente inviável.

Além de ter o potencial de atender a indústrias importantes como a petroquímica e a de eletrônicos, a mineração de asteroides também pode abrir portas para a expansão espacial. Muitos asteroides e cometas têm água, que pode ter seu hidrogênio transformado em combustível de foguete. Dessa maneira, essas grandes rochas podem ter um papel parecido com o de postos de gasolina.

“Será muito mais barato obter matéria prima para se construir uma estrutura em Marte, por exemplo, se ela puder ser obtida dos asteroides do Cinturão de Asteroides, por causa da sua proximidade’, diz Cássio Leandro Dal Ri Barbosa, astrônomo e professor do Centro Universitário da FEI. Chegar lá, porém, não será fácil. “É claro que isso exige um nível de sofisticação muito maior do que temos atualmente”, ressalta o acadêmico. Segundo especialistas, explorar asteroides é algo que não deve acontecer nos próximos dez anos.

Essa impossibilidade não é um empecilho para a atividade comercial dessas startups. Hoje, a Asteroid Mining Corporation trabalha na criação e comercialização de bancos de dados, catalogando os asteroides mais atraentes ao redor do planeta. “Nossa fonte de renda inicial serão os dados. Nosso satélite está estudando a composição de 5 mil asteroides perto da Terra para determinar bons candidatos”, conta Scullion.

Também há empresas apostando no desenvolvimento de robôs e equipamentos para exploração – como a Kleos Space, de Luxemburgo, e a japonesa ispace – e em pesquisas para baratear voos espaciais, que podem custar entre US$ 500 milhões e US$ 1 bilhão. Fundada em 2012, a Deep Space diz que está tentando reduzir esse custo para até US$ 25 milhões.

Paixão antiga

O fascínio dos humanos por pedras espaciais não é novo. Em 1886, Dom Pedro II ordenou que o meteorito Bendegó fosse levado da Bahia ao Rio de Janeiro para que fosse estudado. Décadas depois, no mundo dos quadrinhos, a kriptonita, o fictício mineral do planeta Krypton capaz de enfraquecer o Super-Homem, ganhou fama mundial.

Agora, o fascínio começa a se concretizar como potencial negócio. Alguns países já miram esse mercado. Em 2015, Barack Obama criou legislação que permite a exploração de asteroides. No âmbito global, o Comitê para o Uso Pacífico do Espaço Exterior, ligado à ONU, também discute os aspectos legais da questão.

Luxemburgo não só editou uma lei parecida com a dos EUA, mas está criando incentivos para startups do segmento – em 2016, dedicou US$ 223 milhões para financiá-las. A americana Planetary Resources, por exemplo, recebeu US$ 28 milhões.

Se os planos dessas startups se concretizarem, talvez a profecia do astrofísico Neil deGrasse Tyson se realize: “O primeiro trilionário do mundo será aquele que explorar o conteúdo metálico de asteroides.”

Qual o melhor asteroide?

1. Distância

Classes de asteroides conhecidas como Near Earth Asteroids (NEA) e Potentially Hazardous Asteroids (PHA) são as mais valiosas. Os NEA têm uma distância inferior a 195 milhões de quilômetros da Terra. Os PHA estão a menos de 7,5 milhões de quilômetros – o ponto mais distante entre Terra e Marte é de 401 milhões de km. Existem cerca de 19 mil objetos classificados nessas duas categorias. Atualmente, apenas quatro são “mineráveis” – o mais próximo está a 1 milhão de quilômetros.

2. Composição

O interesse é grande por metais preciosos, como ouro, prata e platina. Os metais do grupo da platina – como paládio, ródio, rutênio, irídio e ósmio – são usados em ligas metálicas e aplicados na indústria petroquímica e em equipamentos eletroeletrônicos. Também interessam elementos como fósforo, zinco, estanho e chumbo.

3. Custo

Os custos de uma missão espacial são muito altos, então o lucro precisa ser atraente. Por exemplo, o asteroide 2001 SG10 tem valor estimado de US$ 3 bilhões, mas uma missão para chegar até ele custará cerca de US$ 2,5 bilhões.