OVNIs e os ‘Homens de Preto’

A história dos Homens de Preto, as figuras misteriosas que se tornariam objeto de fascínio dos entusiastas do fenômeno OVNI, talvez possa ser rastreada até um dia: 27 de junho de 1947. E, ao que tudo indica, começou com um homem, um menino e um cachorro em um barco.

Albert Bender e um dos "três homens", como ele os descreveu em seu livro de 1962, "Flying Saucers and the Three Men" (Discos Voadores e os Três Homens).
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Segundo a história, Harold Dahl estava em uma missão de conservação em Puget Sound, uma enseada perto da costa leste da Ilha Maury, em Washington, recolhendo toras da água, quando viu seis objetos em forma de rosca pairando cerca de 800 metros acima do barco. Pouco depois, um deles caiu, seguido por uma chuva de destroços metálicos, alguns dos quais atingiram o filho de Dahl, Charles, no braço, assim como o cachorro da família, que não sobreviveu aos ferimentos.

Dahl conseguiu tirar algumas fotos da aeronave com sua câmera, que mais tarde mostrou a seu supervisor, Fred Crisman. Cético, Crisman voltou à cena para checar e viu uma aeronave estranha com seus próprios olhos.

 

Na manhã seguinte, Dahl foi visitado por um homem de terno preto. Eles acabaram em um restaurante local, onde o homem foi capaz de contar em detalhes extraordinários o que Dahl acabara de experimentar.

“O que eu disse é uma prova para você de que sei muito mais sobre essa sua experiência do que você gostaria de acreditar”, disse o homem, de acordo com o livro de 1956 do autor Gray Barker, “They Knew Too Much About Flying Saucers” (Eles Sabiam Demais sobre Discos Voadores).

A capa do livro “They Knew Too Much About Flying Saucers” (Eles Sabiam Demais sobre Discos Voadores), de Gray Barker.

Dahl foi instruído a não falar mais sobre o incidente, se o fizesse, coisas ruins aconteceriam.

Os eventos da Ilha Maury continuam a alimentar as teorias da conspiração até os dias de hoje, embora uma investigação do governo dos EUA na época tenha considerado uma farsa depois que Dahl e Crisman, mais tarde, admitiram isso. Em particular, a menção do homem de terno preto, que iria evoluir para uma obsessão para os entusiastas de OVNIs e propagação na cultura popular americana, rendendo uma série de histórias em quadrinhos e filmes.

Existem diferentes versões dos Homens de Preto, mas em todas o objetivo deles é o mesmo: silenciar testemunhas de fenômenos paranormais estranhos.

Eles quase sempre usam ternos e chapéus pretos com óculos escuros, dirigem carros pretos e chegam em grupos de dois ou três. Alguns os descrevem como se fossem agentes do FBI, enquanto outros os descrevem como tendo aparências estranhas, às vezes com características sobrenaturais, como olhos brilhantes e pele estranha.

De Harold Dahl a Hollywood

“A transformação da história de um primeiro relato da imprensa em um conto folclórico em uma história em quadrinhos e agora em um filme ilustra como o mito é transformado”, escreveu Phil Patton no The New York Times, na época em que o primeiro filme de Homens de Preto foi lançado em 1997. “Esse processo não é diferente da brincadeira infantil de ‘telefone sem fio’ ou do que o crítico literário Harold Bloom chama de ‘inovação por má interpretação'”.

Cena do filme MIB – Homens de Preto, de 1997

Seguindo a analogia do telefone, a primeira ligação teria sido feita por Kenneth Arnold, um piloto que teve seu próprio alegado avistamento de OVNIs em 24 de junho de 1947, perto do Monte Rainier, em Washington.

Embora tenha acontecido três dias após o incidente na Ilha Maury, foi o primeiro avistamento amplamente divulgado e logo tornando-se uma sensação, como foi escrito em um relatório do governo de 1949 sobre “Discos Voadores”.

O relatório afirma que Dahl e Crisman procuraram uma revista de Chicago na tentativa de vender sua história, e o editor da revista entrou em contato com Arnold, esperando que ele pudesse ajudar na verificação. Arnold então “convocou dois oficiais da Inteligência A-2 do Exército para ajudar na investigação das afirmações de Dahl e Crisman”, segundo o relatório.

Em julho de 1947, dois oficiais da Inteligência A-2 do Exército foram investigar o caso e depois de partirem da Ilha Maury em um avião B-25 no dia seguinte, o avião pegou fogo e caiu, matando os dois oficiais, o que não serviu em nada para acalmar o animo dos entusiastas do fenômeno OVNI.

Kenneth Arnold, no centro, junto aos pilotos E. J. Smith e Ralph E. Stevens, olham para a foto de um OVNI que eles avistaram enquanto estavam a caminho de Seattle.

Mas a história da Ilha Maury ganhou pouca atenção na comunidade OVNI até o lançamento do livro de Gray Barker de 1956, no qual ele escreveu sobre seu “Arquivo do caso da Ilha Maury”, que consistia em grande parte nos escritos de Ray Palmer, o editor da revista Amazing Stories (Histórias Surpreendentes), de Chicago.

Barker passou a conectar os pontos entre “o homem que usava um terno preto”, o que levou Dahl ao restaurante e os três homens de roupas semelhantes que visitaram um jovem entusiasta de OVNIs chamado Albert K. Bender, em 1953.

O livro de Barker contou a história de Bender, apresentando assim o conceito de MIB (Men In Black/Homens de Preto) a um público muito mais amplo.

“Ele tem um legado importante”, disse Robert Sheaffer, pesquisador de OVNIs. “Antes de sua publicação, ninguém fora de um grupo muito restrito de assinantes de boletins de discos voadores jamais ouvira falar de Bender, ou dos MIB”.

Barker descreveu os visitantes de Bender como: “Três homens de terno preto com expressões ameaçadoras no rosto. Três homens que chegam em você e fazem certas exigências. Três homens que sabem que você sabe o que realmente são os discos!”

Bender, em seu próprio livro de 1962, Flying Saucers and the Three Men (Discos Voadores e os Três Homens), descreveu os MIB em uma linguagem muito mais assustadora.

“Eles flutuavam cerca de 30 centímetros do chão (…) Pareciam clérigos, mas usavam chapéus semelhantes ao estilo Homburg. Os rostos não eram claramente discerníveis, pois os chapéus os escondiam e os protegiam parcialmente (…) Os olhos das três figuras subitamente se iluminaram como lâmpadas de lanterna (…) Eles pareciam arder em minha alma enquanto as dores acima dos meus olhos se tornavam quase insuportáveis”, escreveu Bender.

Barker escreveria vários outros livros relacionados ao paranormal e OVNIs, incluindo The Silver Bridge (A Ponte Prateada) dos anos 70, que ajudou a espalhar a história de outra figura paranormal popular, a criatura conhecida como Mothman (Homem Mariposa ou Homem Traça, que foi tema do filme A Última Profecia, de 2002). Mas o quanto de seus escritos foram feitos de boa fé foi questionado por muitos na comunidade de pesquisa de OVNIs.

“Barker deixou claro para mim que ele não levava o MIB ou o Mothman muito a sério”, diz Sheaffer, que se correspondeu a Barker em algumas ocasiões. “No entanto, ele acreditava que ainda havia ‘algo misterioso’ em todo o fenômeno OVNI e na coisa paranormal”.

Independentemente dos motivos de Barker, inúmeros encontros com os MIB foram relatados desde que o livro “They Knew Too Much About Flying Saucers” (Eles Sabiam Demais sobre Discos Voadores) foi publicado há quase 60 anos.