Ano Novo: Um Presente da Suméria para o Mundo

Existe um planeta em que o Ano Novo nunca cai na mesma data. Ele pode acontecer em dezembro, em julho ou em março, e esse planeta é a Terra mesmo.

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Nosso planeta tem o Ano Novo chinês, o judaico, o islâmico, o polinésio, e o Ano Novo muçulmano cai sozinho numa data diferente de cada vez, em 2008, a chegada do ano 1430 do islamismo foi comemorada em 29 de dezembro, em 2009, o réveillon foi em 18 de dezembro, em 2012, 15 de novembro e em 2017, 21 de setembro. Isto acontece porque o ano islâmico não tem 365 dias, mas 354 dias.

Não se trata de uma arbitrariedade, a tradição árabe não leva em conta o ano solar, que é o tempo que a Terra leva para dar uma volta em torno do Sol, mas o ano lunar, que corresponde a 12 ciclos da Lua. Os 12 ciclos de nova, crescente, cheia e minguante levam 354 dias, 11 dias a menos que o ano solar. Logo, cada Ano Novo deles cai sempre 11 dias antes do anterior pelo calendário gregoriano. Eventualmente, eles chegam a comemorar dois réveillons dentro de um ano dos nossos, e isso aconteceu em 2008, quando um Ano Novo caiu em janeiro e o outro em dezembro.

A proximidade entre a duração de um ano solar e o de 12 ciclos lunares foi justamente o que fez praticamente todas as culturas humanas dividirem o ano em 12 meses, e cada mês em quatro semanas, com cada uma marcando mais ou menos uma fase da Lua. Os 11 dias de perda a cada ano, porém, criam um problema para quem só leva em conta a Lua: chega uma hora em que os meses do ano acabam caindo em estações diferentes. Se o nosso calendário fosse assim, eventualmente janeiro cairia no inverno e junho, no verão.

 

Esse certamente foi um desafio para as antigas civilizações. Caso contassem só pela Lua, perderiam a conta das estações, e se contassem apenas pelo Sol, deixariam de ter o relógio lunar.

A primeira grande solução que se tem registro começou justamente na primeira das grandes civilizações humanas, a Suméria, que floresceu por volta do ano 5.000 a.C., na Mesopotâmia, onde hoje fica o sul do Iraque. Além de criar o primeiro sistema de escrita conhecido, dando inicio a História, os Sumérios criaram o Akitu, que era uma celebração de 11 dias em comemoração ao Ano Novo.

Com esses dias de comemoração fora do calendário, começava-se a contar o ano seguinte 11 dias depois do fim do ano lunar de 12 ciclos com 354 dias, então 354+11=365.

A festa ajustava o calendário lunar com os ciclos do Sol, e os meses permaneciam caindo sempre dentro das mesmas estações. Não há registro de que o Akitu ou as festas ainda mais antigas que lhe deram origem serviam exatamente para isso. Mas, dada a coincidência numérica, é extremamente provável.

Por volta de 2.000 a.C., os babilônios, herdeiros dos sumérios, passaram a adicionar um mês extra a cada três anos para manter a sincronia sem quebrar o calendário. Essa forma de contar os anos, calibrando os ciclos solares e lunares com um mês a mais de tempos em tempos, segue viva até hoje. Ela está presente no calendário judaico, criado com base no calendário da Babilônia, e que trás um décimo-terceiro mês a cada três anos. A cultura judaica, a grega e a romana também herdaram os nomes de alguns meses do ano da cultura babilônica.

O Ano Novo da Suméria acontecia em março, na época das colheitas de cevada. O judaico é em setembro ou em outubro, dependendo do ano, marcando a época do plantio de sementes. No norte da Europa, também era comemorado nessa temporada, mas com o nome de Oktoberfest.

Já o nosso fim de ano é em dezembro para coincidir com outra celebração, a do solstício de inverno no hemisfério Norte, o momento em que os dias começam a ficar novamente mais longos, e que é tradicionalmente na última semana de dezembro.

O calendário ocidental, que remonta à fundação de Roma, aboliu o calendário lunar, sendo exclusivamente solar e os dias extras a cada 4 anos existem para equilibrar a duração do ano com precisão astronômica, já que um ano não dura exatamente 365 dias, mas sim 365 dias e 6 horas.

A tradição de comemorar o Ano Novo com uma pausa de vários dias começou como uma forma de adequar os ciclos do Sol e os da Lua nos calendários das primeiras civilizações agrícolas, e se você está de folga nesses dias, faça um brinde a estas antigas culturas.