Em meados de novembro de 1930, um comerciante de peles canadense chamado Joe Lebelle, assomado por uma tempestade procura um lugar para descansar e passar a noite. Ele se aproxima de um familiar vilarejo Inuit aninhado nas encostas rochosas do lago. Labelle já havia visitado a região anteriormente e feito amizade com os pacíficos habitantes do vilarejo.
Entretanto, tudo que ele se deparou foi com a escuridão e o silêncio do total. A vila estava completamente deserta!
Apenas duas semanas antes, a última vez em que ele estivera lá, a vila era um assentamento agitado e cheio de vida, com crianças correndo e brincando, mulheres tecendo roupas, homens carregando madeira e conversando nos alpendres. Mas agora aquela vila estava vazia. Era um silêncio mortal, onde nem os animais eram ouvidos. Apenas o ruído do vento e das janelas de madeira que eventualmente batiam.
Sem encontrar viva alma, o caçador procurou desesperadamente por pistas que o levassem a explicar a situação.
No lago ele viu que os caiaques dos esquimós ainda estavam nos seus lugares. Intactos. As casas estavam abertas como de costume.
Ele investigou cada uma das cabanas e barracas na esperança de achar sinal de vida ou ao menos um indício do que havia causado uma migração forçada, mas para seu desapontamento, descobriu nas cabanas estoques de comida, armas e peles, que jamais teriam sido deixadas para trás.
Ao entrar numa cabana, encontrou o lugar vazio, a fumaça vinha da lareira que era usada para cozinhar. Uma panela com cozido de peixe havia sido abandonada no fogo. O conteúdo estava queimado como se estivesse no fogo por muito tempo.
Em outro abrigo, encontrou uma mesa posta e restos de comida ainda nos pratos. Em outra, achou um casaco descartado no chão, ainda com agulha e linha, como se a pessoa que estivesse costurando tivesse sido abruptamente interrompida.
Não havia sinais de luta ou confusão (se a vila tivesse sido atacada por saqueadores, os habitantes teriam reagido), tudo estava em perfeito estado, com exceção das pessoas que haviam sumido. Era como se a comunidade inteira de duas mil pessoas tivesse deixado subitamente as suas casas no meio de um dia normal.
Mas havia outro detalhe que Labelle verificou, profundamente estarrecido: não havia rastros no chão indicando que as pessoas saíram do acampamento.
Tomado pelo medo, Joe Lebelle seguiu noite adentro, enfrentando temperaturas baixíssimas, rumo ao escritório telegráfico do distrito mais próximo, onde contou o que havia visto e uma mensagem de emergência foi enviada para o quartel da Royal Canadian Mounted Police, a polícia montada canadense.
Os canadenses nunca tinham ouvido história parecida, e uma expedição foi imediatamente organizada a fim de investigar a vila, sendo também empreendida uma busca ao longo das margens do Lago Anjikuni. Ao chegar no acampamento deserto, os policiais canadenses encontraram duas novas evidências que insinuavam a possibilidade de que houvesse ocorrido um evento sobrenatural.
Em primeiro lugar, descobriram que os esquimós não levaram os seus trenós puxados por cachorros, como Joe Labelle afirmou de início. Estranhamente, as carcaças dos cães huskies foram encontradas cobertas de neve, acumulada pelo vento nas cercanias do acampamento. Eles morreram de inanição.
Em segundo lugar, o relatório dos policiais que conduziram a busca revela que o cemitério do vilarejo havia sido profanado. Para acrescentar outro elemento inexplicável, os policiais verificaram que a terra do cemitério havia sido removida em montes uniformes depositados ao lado de cada sepultura, evidenciando que o trabalho não havia sido realizado por animais escavando. Além disso, o solo estava tão congelado que parecia petrificado e seria impossível escavá-lo à mão.
Os esquimós não poderiam de maneira alguma ter viajado sem um dos seus meios de transporte típicos, os trenós ou os caiaques. E jamais deixariam seus cães morrerem de uma forma tão lenta e dolorosa, sendo que estes desempenham uma função essencial para a sobrevivência das comunidades isoladas pela neve e gelo. Ainda assim, eles partiram, e os cachorros foram deixados à sorte.
O segundo enigma, a sepultura aberta, era o bastante para os etnólogos familiarizados com o comportamento da tribo estranharem, considerando que a profanação dos mortos é um dos mais sérios tabus para o povo Inuit. Qual a explicação para que as sepulturas tenham sido perturbadas?
Luzes Estranhas
Se essas histórias não fossem estranhas o suficiente, os oficiais que estiveram no local afirmaram categoricamente que enquanto exploravam os arredores do Lago Anjikuni viram estranhas luzes pulsantes no horizonte. Nenhuma dessas luzes parecia natural ou com algo que eles já tivessem visto anteriormente.
No caminho até o Lago Anjikuni, o grupo de resgate parou numa cabana que pertencia a um caçador chamado Armand Laurent e ouviram do homem e de seus dois filhos, que algo estranho vinha acontecendo nas últimas noites. Eles haviam visto uma espécie de luz muito brilhante nos céus noturnos e estranhos objetos em forma de cilindro sobrevoando a área do Lago Anjikuni. O caçador havia proibido seus filhos de deixar a casa e nenhum deles se separava de seus rifles de caça. Os três contaram que os tais objetos voavam sem produzir o menor som e que por vezes ficavam no céu imóveis. Em certa ocasião contaram mais de 15 deles sobrevoando em diferentes altitudes.
Após algumas investigações, os policiais concluíram que os habitantes do vilarejo haviam simplesmente partido em algum tipo de migração sazonal, porém sem nunca rastrear tal rota de imigração ou ao menos explicar por que não havia nenhum rastro recente, o que seria virtualmente impossível considerando que a migração tivesse sido realizada às pressas. Além disso, porque teriam abandonado nas tendas os seus bens mais preciosos e seus animais?
Como afirmou um oficial na ocasião: “Esse acontecimento é, de um modo geral, fisicamente improvável.”
O mistério sobre o que pode ter acontecido jamais foi desvendado e a região do Lago Anjikuni é evitada pela maior parte das tribos Inuit, após o acontecimento circularam várias histórias sobre uma suposta maldição existente na área da tragédia. E, de fato, nenhuma outra tribo Inuit vive mais em um raio de 50 quilômetros do estuário.